Conflitos identitários do árabe israelense: Aravim Rokdim de Sayed Kashua
- Juliana Portenoy Schlesinger
- Tese de doutorado em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica (USP).
- Data de defesa: 30/03/2011.
Resumo: Este trabalho consiste na análise do romance Aravim Rokdim (Árabes Dançantes), do escritor árabe israelense muçulmano Sayed Kashua, e tem como foco central a questão identitária que envolve o árabe israelense conforme visto nessa obra. Publicado em 2002, o romance conta em hebraico, idioma que tem como leitor majoritário o judeu, a história de uma família de árabes israelenses. Este estudo é desenvolvido com base nas teorias provindas dos Estudos Culturais e Pós- Colonialistas, segundo as quais no ser humano coexistem múltiplas e antagônicas identidades. Esse fato é exponencialmente visto nesse árabe cidadão israelense apresentado no romance de Kashua, que convive com sentimentos de culpa devido à sua dupla-lealdade e conflitantes fidelidades: por um lado, ele aceita sua cidadania israelense; por outro, além de ser membro de um povo cujas muitas nações se opõem à existência do Estado de Israel, ele possui parentes nos territórios ocupados por Israel na Guerra dos Seis Dias (1967) que não tiveram direito àquela cidadania. Esses sentimentos complexos e ambivalentes são intensificados devido ao contexto sociopolítico do romance: a Segunda Intifada (2000-2006). Nesse período da moderna história de Israel, a desconfiança do judeu e do Estado de Israel em relação à fidelidade do cidadão árabe israelense para com seu Estado foi exacerbada. Surge dessa combinação um romance político inusitado, que se utiliza do humor e da autoironia para contar ao seu leitor a história do árabe israelense que vive preso entre duas sociedades, que se sente um estrangeiro em seu próprio meio e, mesmo assim, não desiste de buscar um novo lugar identitário para si próprio.
Veja mais:
- Revista Vértices No 9 (2010): A Escrita de Sayed Kashua (Juliana Portenoy Schlesinger): O idioma tem um papel central em apontar em que contexto social, político e/ou econômico uma pessoa situa-se e quais as conseqüências que o uso desta língua causa naqueles que a ouvem ou a lêem. A língua hebraica, tratada particularmente neste trabalho de doutorado, adquire relevância significativa dentro do contexto do estabelecimento do Estado de Israel e do atual conflito israelense-palestino. Sayed Kashua é um jovem jornalista e escritor que nasceu na cidade árabe de Tira, em Israel, e que escreve sua obra em hebraico. Ele tem dois romances publicados e escreve semanalmente crônicas jornalísticas no jornal israelense Haaretz. Daqueles que são de origem islâmica, como é o caso de Kashua, é esperado que falem e escrevam primeiramente na língua árabe, levando-se em conta que o sistema educacional israelense é organizado por língua de instrução, isto é, judeus são lecionados nas diversas disciplinas do ensino fundamental na língua hebraica enquanto que aqueles de origem árabe são direcionados, durante este período, ao ensino na língua árabe. Contudo, Kashua é uma exceção por ter estudado numa escola destinada a alunos especiais, sem distinção entre etnias ou religião, cujo ensino é feito em hebraico. >>> Leia mais, clique aqui. >>> Baixar este arquivo PDF
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